Era uma entre tantas. Usava uma saia
vermelha e uma mini-blusa que complementa o seu estilo de
cabelo afro. De sandália plataforma, pele escura e perfumada que reflectia com o
brilho da noite, Maria de 17 anos caminhava pelas ruas da cidade para mais um dia do
seu trabalho. Os seus olhos
acastanhados e brilhantes escondem a tamanha
amargura.
Imagem Carla Tavares |
«Eu não me considero uma trabalhadora de sexo (TS), tenho namorado, a minha Mãe não tem muito recursos. Fui criada com a minha avó. Saio com outros homens que me levam a lugares que sempre sonhei, me presenteiam com roupas, perfumes de marcas...Só faço isso porque como todo mundo eu quero estar bem», desabafa a jovem estudante.
Segundo um estudo feito pela ccs sida em Cabo Verde existê cerca de 1445,trabalhadores de sexos (TS) . sendo 1331 mulheres e 114 homens situados em mais 80 bairros. No qual 25% são empregadas domestica, 21% vendideiras ambulantes, e 17% são estudantes.
A troca
consciente de favores sexuais por dinheiro ou benefício continua
encoberto, rodeado de tabus . Não é assumido por
quem vende e nem por quem compra sexo.
A média de idade na entrada no trabalho sexual é de 17 anos. A relação sexual paga inicia-se muito cedo 90% antes dos 18 anos, 60% antes dos 16 anos e 36% antes dos 15 anos .
Testemunho de uma TS
“Deixei a escola aos 17 anos quando engravidei pela primeira vez e fui morar com o pai dos meus filhos só que não tive sucesso. Tive que arranjar um outro que me sustentasse por isso resolvi sair de casa e fazer a minha vida com mais liberdade, vivo esta vida, o importante é que consigo dar de comer aos meus filhos, pagar a renda, a propina do meu primeiro filho e sustentar a ostentação”.
A prevalência de VIH/SIDA na população de trabalhadores de sexo é de 7,7% que pode ser considerada a prevalência média, na população
de 581 TS inquiridos.
Desemprego, gosto, luxo,
sustentar o vício e filhos para
sustentar destacam-se como
principais motivos que levam as pessoas a
entrarem nesse mundo, ignorando os riscos associados a essa prática em relação as infecções sexualmente
transmissíveis e principalmente ao VIH.
«A prostituição é preocupante visto que muitos adolescentes estão a consumir drogas e a venderem seus corpos para sustentar o vício. É preciso medidas para resolução deste problema porque senão daqui alguns anos teremos problemáticos», afirma Óscar Semedo Engenheiro.
Degradação de valores, ma influencia para os filhos, instabilidade familiar, discriminação e marginalização por parte da sociedade, uso de drogas e exclusão social, identificam como impactos da prostituição na sociedade cabo-verdiana.
Opinião de membros da Igrejas
Dionildo Tavares, legionário na Igreja católica,
defende não ser a favor da prostituição e acrescenta que a problemática esta
inteiramente ligado aos valores transmitidos pela família.
Por outro lado, Nelida brito membro da Igreja das Testemunhas de Jeová, declara que não é contra as prostitutas mas sim contra a prostituição e aponta a falta de emprego e falta de uma forte orientação religiosa como principais causa da prostituição. “Desde a antiguidade Jesus foi contra a prostituição, acredito que se houvesse mais emprego e uma forte orientação religiosa a prostituição teríamos menos prostituição nos pais».
Entre bares, quiosques, rotundas, hotéis,
pensões e algumas residências as trabalhadores de
sexo circulam correndo o risco
de serem agredidas, marginalizadas e violentadas . Na população de trabalhadores
de sexo há muita mobilidades de um sítio para outros dependendo de eventos,
romarias e festivais.
Carlos Delgado, funcionário de Bar , afirma não ser contra a
prostituição e apela protecção das trabalhadoras de sexo. “Não sou contra a prostituição porque muitas pessoas não fazem isso porque querem mais
sim porque é o único meio de sobrevivência que encontram e as TS deveriam ter mais
protecção porque de certa forma essa
actividade tem
impacto na economia do país».
Maria Celina, membro da CCS-SIDA defende que a
prostituição é algo que sempre vai existir na sociedade Cabo-verdiana e que
deve ser legalizado. «A prostituição em Cabo Verde não
vai acabar porque é uma prática que sempre
existiu, mais se fosse legalizado diminuiria o risco de DST, os trabalhadores
de sexo assumiriam esta profissão e as pessoas
respeitavam mais as TS,» .
A prostituição masculina é menos visível
Embora 90% das TS são mulheres a prostituição masculina tem ganhado
relevo no arquipélagos sobretudo nas ilhas turísticas.
Para o mestre em sexologia,
André Bahia Ribeiro, prostituição masculina é camuflada e extremamente difícil de se ver.
Temos a percepção de que está a
crescer por causa do turismo sexual, mas não há nenhum estudo a revelar dados
sobre este fenómeno em Cabo Verde. Não é algo visível, comparada com a
feminina. Não há homens na rua a prostituírem-se porque a sociedade é muito
machista e os prostitutos têm medo de assumir, por exemplo, que têm homens como
clientes.
Ainda não existe uma cobertura de serviços direccionados
a TS de forma abrangente e com qualidade requerida. Apenas duas ONG’S vem
desenvolvendo actividades voltadas para estas população, o que demonstra uma
necessidade urgente do envolvimento das autoridades sanitárias na preservação
de cuidados integrados a este grupo específico.
Prostituição és a realidade que divide opinião, por um lado a moral, os bons, costumes a virtude e do
outro a necessidade extrema de sobrevivência.
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