quinta-feira, 28 de maio de 2015

Prostituição é uma realidade em Cabo Verde



  

Era uma entre tantas. Usava uma saia vermelha e uma mini-blusa que complementa o seu estilo de cabelo afro. De sandália plataforma, pele escura e perfumada que reflectia com o brilho da noite, Maria de 17 anos caminhava pelas ruas da cidade para mais um dia do seu trabalho. Os seus olhos acastanhados e brilhantes  escondem a tamanha amargura.
Imagem Carla Tavares

«Eu não me considero uma trabalhadora de sexo (TS), tenho namorado, a minha Mãe não tem muito recursos. Fui criada com a minha avó. Saio com outros homens que me levam a lugares que sempre sonhei, me presenteiam com roupas, perfumes de marcas...Só faço isso porque como todo mundo eu quero estar bem», desabafa a jovem estudante. 

 Segundo um estudo feito pela ccs sida em Cabo Verde   existê cerca  de 1445,trabalhadores de sexos (TS) . sendo 1331 mulheres e 114 homens situados em mais  80 bairros. No qual 25% são empregadas domestica, 21% vendideiras ambulantes, e 17% são estudantes.  
A troca consciente de favores sexuais por dinheiro ou benefício continua encoberto, rodeado de tabus . Não é assumido por quem vende e nem por quem compra sexo.

média de idade na entrada no trabalho sexual é de 17 anos. A relação sexual paga inicia-se muito cedo 90% antes dos 18 anos, 60% antes dos 16 anos e 36% antes dos 15 anos .


Testemunho de uma TS

“Deixei a escola aos 17 anos quando engravidei pela primeira vez e fui morar com o pai dos meus filhos só que não tive sucesso. Tive que arranjar um outro que me sustentasse por isso resolvi sair de casa e fazer a minha vida com mais liberdade, vivo esta vida, o importante é que consigo dar de comer aos meus filhos, pagar a renda, a propina do meu primeiro filho e sustentar a ostentação”.  

A prevalência de VIH/SIDA na população de trabalhadores de sexo é de 7,7% que pode ser considerada a prevalência média, na população
 de 581 TS inquiridos. 

Desemprego, gosto, luxo, sustentar o vício e filhos para sustentar destacam-se como principais motivos  que levam as pessoas a entrarem nesse mundo, ignorando os riscos associados a essa prática em relação as infecções sexualmente transmissíveis e principalmente ao VIH. 

«A prostituição é preocupante visto que muitos adolescentes estão a consumir drogas e a venderem seus corpos para sustentar o vício. É preciso medidas para resolução deste problema porque senão daqui alguns anos teremos problemáticos», afirma Óscar Semedo Engenheiro.

Degradação de valores, ma influencia para os filhos, instabilidade familiar, discriminação e marginalização por parte da sociedade, uso de drogas e exclusão social, identificam como impactos da prostituição na sociedade cabo-verdiana.

Opinião de membros da Igrejas


Dionildo Tavares, legionário na Igreja católica, defende não ser a favor da prostituição e acrescenta que a problemática esta inteiramente ligado aos valores transmitidos pela família. 

Por outro lado, Nelida brito membro da Igreja das Testemunhas de Jeová, declara que não é contra as prostitutas mas sim contra a prostituição e aponta a falta de emprego e falta de uma forte orientação religiosa como principais causa da prostituição. “Desde a antiguidade Jesus foi contra a prostituição, acredito que se houvesse mais emprego e uma forte orientação religiosa a prostituição teríamos menos prostituição nos pais».

Entre bares, quiosques, rotundas, hotéis, pensões e algumas residências as trabalhadores de sexo circulam correndo o risco de serem agredidas, marginalizadas e violentadas . Na população de trabalhadores de sexo há muita mobilidades de um sítio para outros dependendo de eventos, romarias e festivais. 

Carlos Delgado, funcionário  de Bar , afirma não ser contra a prostituição e apela protecção das trabalhadoras de sexo. “Não sou contra a prostituição porque muitas pessoas não fazem isso porque querem mais sim porque é o único meio de sobrevivência que encontram e   as TS deveriam ter mais protecção porque de certa forma essa actividade tem impacto na economia do país». 

 Maria Celina, membro da  CCS-SIDA defende que a prostituição é algo que sempre vai existir na sociedade Cabo-verdiana e que deve ser legalizado. «A prostituição em Cabo Verde não vai acabar porque é uma prática que sempre existiu, mais se fosse legalizado diminuiria o risco de DST, os trabalhadores de sexo assumiriam esta profissão e as pessoas respeitavam mais as TS,»  .

A prostituição masculina é menos visível 

Embora 90% das TS são mulheres a prostituição masculina tem ganhado relevo no arquipélagos sobretudo nas ilhas turísticas.
Para o mestre em sexologia, André Bahia Ribeiro, prostituição masculina é camuflada e extremamente difícil de se ver. Temos a percepção de que está a crescer por causa do turismo sexual, mas não há nenhum estudo a revelar dados sobre este fenómeno em Cabo Verde. Não é algo visível, comparada com a feminina. Não há homens na rua a prostituírem-se porque a sociedade é muito machista e os prostitutos têm medo de assumir, por exemplo, que têm homens como clientes.

Ainda não existe uma cobertura de serviços direccionados a TS de forma abrangente e com qualidade requerida. Apenas duas ONG’S vem desenvolvendo actividades voltadas para estas população, o que demonstra uma necessidade urgente do envolvimento das autoridades sanitárias na preservação de cuidados integrados a este grupo específico. 

Prostituição és a realidade que divide opinião, por um lado a moral, os bons, costumes  a virtude  e  do outro a necessidade extrema de sobrevivência.   


Sem comentários:

Enviar um comentário